quinta-feira, 18 de abril de 2013

Estudo Bíblico - Parte 1




1. A ORIGEM DO MAL (TEODICÉIA)

“Procurei o que era a maldade [o mal] e não encontrei uma substância, mas sim uma perversão da vontade desviada da substância suprema – de Vós, ò Deus – e tendendo para as coisas baixas: vontade que derrama as suas entranhas e se levanta com intumescência. (Agostinho, Aurélio. Confissões. São Paulo: Nova Cultural, 1999. p. 190).


1.1 INTRODUÇÃO

O tema do presente estudo, apesar de receber um nome pouco conhecido, traz à tona uma questão notória e que inquieta a todos: o problema do mal, de onde ele se originou e, principalmente, o que Deus tem a ver com ele.

Por que o mal existe? Qual a razão de Deus tolerá-lo? Tais perguntas fizeram parte da vida e dos pensamentos de todos os homens que creram e dos que crêem em um “Deus soberanamente bom e justo”. A própria Bíblia traz exemplos de homens de Deus que O questionaram sobre esse tema:

“Tu [Deus] és tão puro de olhos, que não podes ver o mal, e a opressão não podes contemplar. Por que olhas para os que procedem aleivosamente, e te calas quando o ímpio devora aquele que é mais justo do que ele?” (Habacuque 1.13)

“Mas Gideão lhe respondeu: Ai, Senhor meu, se o SENHOR é conosco, por que tudo isto [mal, adversidade] nos sobreveio? E que é feito de todas as suas maravilhas que nossos pais nos contaram, dizendo: Não nos fez o SENHOR subir do Egito? Porém agora o SENHOR nos desamparou, e nos deu nas mãos dos midianitas.” (Juízes 6.13)


1.2 A ABORDAGEM FILOSÓFICO-CIENTÍFICA

Teodicéia foi uma palavra criada nos meados do sec. XVI, pelo filósofo e jurista alemão Gottfried Wilhelm Leibniz.

Essa palavra deriva do grego Théos = Deus + Diké = Justiça, que por aglutinação formaram o vocábulo “teodicéia”, cujo significado literal é “Justiça de Deus”, ou como foi utilizado pelo filósofo alemão Leibniz: “estudo da justificação de Deus frente à existência do mal”.

Na obra desse filósofo, que aborda o assunto da existência do mal, chamada Escritos de uma Teodicéia, ele apresenta sua visão de Deus, muito parecida com a visão moral (que viria a ser formulada por Kant, um século depois), conforme abaixo:

“As perfeições de Deus são aquelas de nossas almas, mas, Ele as possui em ilimitada medida; Ele é um Oceano, do qual apenas gotas nos são concedidas; há, em nós, algum poder, algum conhecimento, alguma bondade, mas, em Deus estão em sua inteireza. Ordem, proporções, harmonia nos encantam; (…) Deus é todo ordem; Ele sempre mantém a verdade das proporções, Ele torna a harmonia universal; toda beleza é uma efusão de Seus raios.”

Diante de tal posicionamento, nota-se claramente que Leibniz “não colocava o problema do mal em Deus”, mas apenas fazia referência que seria impossível determinar, de uma maneira completa e lógica como e por quê o mal existe, assim como é impossível à uma única estrela determinar a imensidão do universo do qual ela faz parte.

Ou seja, a estrela (exemplo) faz parte do universo, contudo não expressa a completude do universo, logo, a explicação do mal e sua relação com Deus é possível de ser efetuada satisfatoriamente, e é verdadeira, porém incompleta, da mesma forma que a estrela é apenas uma parte de um infinito universo, que no caso são os mistérios de Deus.

Continuando suas explicações sobre a teodicéia, Leibniz afirma:

“Ora, essa suprema sabedoria [de Deus], aliada a uma bondade que é infinita, não pode escolher exceto o melhor. Pois, tal como um mal menos é um tipo de bem, também um bem menos é um tipo de mal se é um obstáculo a um bem superior; e haveria algo a corrigir nas ações de Deus se fosse possível fazer melhor. Como nas matemáticas, quando não há máximo nem mínimo, em resumo, nada haveria a distinguir, tudo é feito de modo igual; ou quando aquilo não é possível, nada é feito: então, pode-se afirmar o mesmo com respeito à sabedoria divina (que não é menos ordenada que as matemáticas) que se não houvesse o melhor (optimum) entre todos os mundos possíveis, Deus não teria produzido.”

Em resumo, para Leibniz, Deus criou o mundo da forma como ele é, porque este é “o melhor dos mundos”. Entretanto essa é uma visão racionalista, isto é, que parte apenas dos pressupostos lógicos para a formulação do conceito de “melhor possível”, levando-se em conta que como Deus é o “melhor moral”, Ele criou o mundo tal como é por ser ele (o mundo) o melhor possível, ou seja, que Deus não poderia ter feito outro mundo melhor que não fosse esse (vinculação).

Contudo, a visão de Leibniz está invertida, como disse o Dr. W. Gary Crampton:

“Leibniz tem uma visão invertida. Deus não escolheu este mundo porque ele é o melhor; ao invés, ele é o melhor porque Deus o escolheu.”

Logo, apenas a visão filosófica e racional não é capaz de explicar e aquietar o homem acerca da questão da existência do mal, portanto é necessária uma teodicéia com bases bíblicas para responder plenamente sobre a existência do mal.


1.3 TEORIAS A RESPEITO DO MAL

Muitas teorias têm apontado que o mal no mundo é fruto da concorrência de dois deuses finitos (maniqueísmo), outros negam totalmente a existência do mal e ainda outros propõe a existência de um deus finito.

Entretanto, citando mais uma vez o Dr. W. Gary Crampton:

“Estas teorias, é claro, estão longe de ser uma teodicéia bíblica. A Bíblia deixa muito claro que o mal não é ilusório. O pecado é real; provocou a queda do homem e a maldição de Deus sobre todo o cosmos (Gn. 3). Também Deus não deve ser visto como menos que uma divindade onipotente e onisciente. Ele é o Criador ex nihilo do universo (Gn. 1:1 e Hb. 1.1-3). Mais ainda, o fato de Deus ser o Criador e Sustentador de todas as coisas vai de encontro a qualquer forma de dualismo. Deus não sofre nenhuma concorrência (Jó. 33.13).”

Explicação:

1. ex nihilo  do latim, que significa do inexistente, do nada.

Portanto, se não há possibilidade da existência de dois deuses (um bom e outro mal, que duelam em nível de igualdade), nem de Deus ser finito, e se o mal realmente existe, deve haver uma explicação para o mal existir, e de que Deus não é seu autor, nem com ele concorda.


Fonte: Aliança do Calvário


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